Quanto cobrar pelo meu Design? — Dicas para Freelancer

Um divertido guia sobre os detalhes (e cálculos simples) que você precisa saber na hora de cobrar.

Maiane Gabriele
UX Collective 🇧🇷

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Se em algum momento apareceu em sua vida o famoso “freela”, muito provavelmente também apareceu em sua cabeça a famosa dúvida:

Quanto cobrar pelo meu Design?

Eu entendo. Sou freelancer profissional há uns bons anos e precificação é sempre um mistério. Eu adoraria dizer para você “É só usar esta planilha” ou “É só entrar nesse site, calcular sua hora e tá lindo”. Mas eu estaria te iludindo.

Por isso preferi escrever este artigo. O principal objetivo dele é tirar dúvidas comuns sobre como cobrar por um freela, dar algumas dicas e — com alguma sorte — te ajudar a encontrar o valor certo para o seu design.

A seguir listei alguns passos que poderão te ajudar nesta jornada. Sugiro que siga eles em ordem linear, já que cada etapa depende da anterior.

Antes de iniciarmos, preciso apresentar o Freelo, ele irá ajudar você nesta jornada. Diga oi para o Freelo.

Freelo é uma bola azul dentuça, fofa e simpática. Na imagem ele diz “Oi, eu sou o Freelo! 💛”

Obs.: eu sei que parece existir uma máfia de designers do mal que não falam de preço porque são do mal. Mas juro que não é isso, ok? rs

1. Defina o escopo do projeto

Assim que chegar até você uma solicitação de serviço, antes de sequer pensar em preço, é importantíssimo responder a esta pergunta:

Você sabe o real escopo do projeto?

Vamos imaginar, por exemplo, um website. Se um cliente falar “Preciso de um website” várias dúvidas pipocam na cabeça do Freelo, como:

  • Quantas páginas terá o website?
  • Quantas seções cada página terá?
  • O que deverá ter em cada página?
  • Preciso fazer layout Desktop + mobile?
Freelo de ponta cabeça como se fosse um vampiro perguntando “Será que precisa de Dark mode?”

Sem esse tipo de respostas, o pobre Freelo sequer conseguirá continuar. Mas Freelo é uma sábia e fofa bola azul, antes de passar um valor a seus clientes ele faz o incrível mini briefing. Algumas perguntas que ele faz:

  1. Qual o serviço?
    Ex.: um website
  2. Quantas telas? Qual a complexidade?
    Ex.: 3 telas — home, sobre e contato
  3. Precisa de desktop + mobile?
    Ex.: Sim
  4. Qual a fase do produto? Precisa de pesquisa prévia?
    Ex.: produto iniciando, precisa coletar mais informações (pesquisa)

Freelo, sempre atento, não deixa de prestar atenção em cada etapa e faz perguntas adicionais para cada ponto que restar alguma dúvida. Em alguns casos as respostas são objetivas:

Exemplo de resposta: 3 telas.

Em outros podem parecer objetivas, mas precisam de exploração:

Exemplo de resposta: cliente fala que precisa de uma página para blog. Porém, na prática são duas páginas, uma para apresentar todos os posts, outra para cada post. É preciso de um olhar Freelístico para identificar esses casos (na dúvida, encarne o Freelo que existe dentro de você e pergunte tudo).

E, por fim, podem ter casos em que a complexidade é totalmente subjetiva:

Exemplo de resposta: precisamos pesquisar com clientes e melhorar a experiência do usuário.

Em todos esses casos é seu papel perguntar ao cliente até chegarem juntos em um mínimo escopo palpável. Explique que precisa disso para passar uma estimativa de orçamento.

Freelo abismado perguntando “Óh, nobre cliente! O que passa em vossa cabeçinha quando você fala “melhorar a experiência do usuário”? Explica aqui pro tio Freelo…”

Sugira que o cliente faça um mapa do site, explique quanto tempo, ou quantas pessoas precisa entrevistar numa pesquisa, por exemplo. Com o tempo essas tarefas ficarão mais fáceis.

Menino Freelo normalmente coleta as respostas para essas questões via videochamada. Afinal, é quando o Freelo assume o incrível papel de “julgar clientes”. Sim, nessa oportunidade ele deliberadamente dá aquela julgadinha só para avaliar alguns pontos subjetivos:

  • O cliente parece organizado?
  • O cliente compareceu na reunião no horário combinado?
  • O cliente tinha as informações que eu precisava?

Tudo isso ajuda a entender o quão difícil o serviço será, e também o quão difícil o cliente parece ser para lidar. Com tempo e experiência começa a ficar mais fácil identificar clientes potencialmente problemáticos.

Além disso, para saber o que perguntar ao cliente, uma boa alternativa é pesquisar modelos de briefing. Muitas pessoas enviam um formulário para o cliente para coletar essas respostas, ao invés de uma videochamada, essa é também uma opção e tudo depende da sua estratégia de negócio.

2. Defina o modelo de trabalho (Hora vs. Projeto)

Após definir o escopo é preciso entender como você irá trabalhar. Em geral, existem duas alternativas comuns: cobrar por hora ou por projeto.

Cobrar por Hora

Para entender esta modalidade, imagine o seguinte exemplo.

Uma empresa quer contratar o Freelo e eles disseram “Queremos contratar 20 horas do seu trabalho”. Nesse caso, o Freelo diria algo como “meu preço é R$2 a hora” (em seguida abordarei sobre como calcular o preço da sua hora). Logo, para 20 horas de trabalho a conta seria simples:

Preço da hora × N. de horas trabalhadas = Total a cobrar

R$2 × 20 horas = R$40*

Imagem do cálculo utilizando o exemplo do freelo.

Ou seja, o Freelo cobraria R$40 pelo serviço. Essa é uma das principais vantagens da cobrança por horas. Afinal, se o cliente quiser, ele pode contratar mais horas e é fácil calcular.

Por favor, não cobre R$2, ok? O Freelo cobra R$2 porque na Terra dos Freelos isso é uma fortuna e é possível comprar muitas casas e carros Freelos com esse valor.

Vantagens

  • Fácil de calcular: após descobrir o preço da sua hora, é fácil calcular.
  • Sem surpresas: não existem muitas surpresas, na pior das hipóteses serão contratadas mais horas.
  • Fácil comunicação: é mais fácil comunicar e entrar em acordo com o contratante sobre as horas que ambos acham justas para o serviço específico.

Desvantagens

  • Excesso de controle: pode induzir a excesso de controle pelo contratante.
  • Exige confiança: é preciso extrema confiança entre você e o contratante para definir como será feita a contagem das horas.
  • Difícil de mostrar valor: pode ser mais difícil de mostrar o valor do seu trabalho, já que muitas vezes será comparado ao trabalho CLT.
  • Nem sempre compensa: se você trabalhar rápido, pode não compensar.
  • Pode ser cilada, Bino: pode ser uma desculpa para contratar Pessoa Jurídica (PJ) como se fosse CLT.

Cobrar por Projeto

Entretanto, cobrar por horas nem sempre é uma boa opção. Por exemplo, o Freelo não é somente uma bola fofa azul, mas muito mais importante: ele é uma bola fofa azul que trabalha MUITO RÁPIDO (sim, quase o Sonic). Logo, trabalhar por horas não é muito vantajoso para o Freelo.

Além disso, o Freelo não curte microgerenciamento. Por isso, ele prefere cobrar por projeto, o que pode ser bastante desafiador.

Diferente da cobrança por hora, no caso da cobrança por projeto você irá determinar quanto cobrará com base na quantidade e complexidade das tarefas. E não, necessariamente, com base no número de horas (em seguida abordarei os cálculos para horas e projetos).

Vantagens

  • É subjetivo: pode dar mais margem para apresentar o valor do seu trabalho.
  • Maior autoridade: após adquirir alguma experiência, cobrar por projeto pode passar mais autoridade, já que mostra que você sabe quanto vale o seu design.
  • Evita microgerenciamento: gera poucas margens para microgerenciamento já que o cliente sabe exatamente o quê, quando e como será entregue.

Desvantagens

  • É subjetivo: logo, nem sempre é fácil encontrar qual o escopo do projeto.
  • Pode ser difícil determinar o escopo: é preciso prever algo que sirva de margem para o projeto (ex.: número de telas, tamanho da pesquisa, número de usuários entrevistados) e isso nem sempre é fácil descobrir.
  • Mal feito, pode dar muitas margens para problemas: quando mal negociado, pode deixar muitas margens sobre o que será entregue e isso pode facilmente aumentar o escopo de trabalho.

3. Calcule o preço do seu Design

Eu vou adiantar: preço é algo subjetivo. Não existe lei, não existe certo nem errado. Porém, eu entendo que, principalmente quando se está iniciando, nem sempre é fácil encontrar quanto vale o seu projeto ou a sua hora. Por isso darei algumas dicas práticas.

Como calcular o preço por hora

Uma das dicas mais óbvias é utilizar uma “calculadora de hora freelancer”. Caso você pesquise no Google irá encontrar várias calculadoras desse tipo. Na prática, são sites que perguntam variáveis como:

  • Quanto você gostaria de ganhar?
  • Quanto você gasta com luz, internet, espaço;
  • Quanto você gasta com equipamentos;
  • E várias outras coisas.

No final, essas calculadoras dão o que chamam de “o seu valor por hora”. Se você não tem a mínima ideia de como cobrar, pode, sim, ser um bom começo.

Porém, os cálculos são com base em métodos que outras pessoas criaram. Por isso, a longo prazo é importante você refletir sobre o quanto você acha que vale o seu serviço. Outras dicas incluem:

Pesquisar vagas

Veja vagas similares ao seu nível e quanto estão pagando. Depois divida o total pago pelo total de horas trabalhadas no mês, essa é a média que estão pagando para designers do seu nível.

Por exemplo, o Freelo se considera um adorável designer de nível pleno, entrou no LinkedIn, Glassdoor, vários outros locais e constatou: a maioria das vagas paga em torno de R$5.000 por mês para designers ao nível parecido com o meu. Além disso, vamos supor que durante um mês o funcionário de uma dessas empresas trabalhe em torno de 200 horas. Agora a conta é fácil:

Média paga por empresas ÷ quantidade de horas trabalhadas = preço por hora

R$5.000 ÷ 200 horas = R$25 / hora

Exemplo mostrando o cálculo da hora com base em salário médio. Salário médio dividido por horas trabalhadas no mês é igual ao preço por hora.

Porém, o Freelo não é um empregado CLT. Logo, não possui direitos trabalhistas, férias com vários gastos a mais (Oh! Pobre Freelo…). Por isso, ele vai dobrar o valor.*

Preço por hora × 2 = preço por hora Pessoa Jurídica (PJ)

R$25 por hora × 2 = R$50 / hora.**

Exemplo mostrando que o Freelo dobrou o valor da hora dos trabalhadores CLT para poder cobrar mais sendo PJ.

*Pessoa Jurídica (PJ) não é CLT: Lembre-se que você é Pessoa Jurídica. Minha sugestão é, no mínimo, dobrar o valor pago para um CLT. Como PJ você tem mais gastos com impostos e equipamentos, por exemplo. Além disso, precisa garantir seus próprios direitos como férias e décimo terceiro. Se achar necessário, pode multiplicar até por mais.

**Valores estimados: todos os valores citados são estimativas e exemplos, na prática, você deverá calcular os seus próprios valores a partir das informações e ideias obtidas.

Calculando o preço por projeto

No caso das horas, você normalmente divide o total que pretende ganhar pelo total de horas que irá trabalhar. No caso de projetos o que muda é que você irá precisar de algo para estimar a complexidade do projeto. Por exemplo, no caso de um aplicativo pode ser número de telas.

Nesse caso, vamos utilizar o exemplo anterior. O Freelo todo fofo, rei das exatas, calculou tudo bonitinho e descobriu que o preço que achava justo para sua hora de trabalho era R$50.

Mas aí veio o cliente, e disse “Freelo! Tenho outro projeto. Um site, com 5 telas!”. Freelo não exitou e logo começou a se perguntar:

Quanto tempo será que eu levo para fazer cada tela?

Logo ele descobriu que não tinha um valor exato, mas uma estimativa. Em um dia normal de trabalho o Freelo leva em torno de 4 horas para fazer uma tela. Logo, usando como base o preço da sua hora de trabalho, foi fácil achar o preço por tela:

Preço por hora × número de horas trabalhadas = preço por tela

R$ 50 por hora × 4 horas = R$200 (preço por tela)

Exemplo demonstrando o caso acima com o Freelo. 50 reais por hora trabalhada, vezes 4 horas de trabalho é igual e 200 reais por tela.

Para finalizar, basta calcular quanto custará todo o projeto. Neste caso, as 5 telas:

Preço por tela × quantidade de telas = preço do projeto

R$ 200 × 5 = R$1.000

Calculo mostrando que o Freelo cobra R$200 por tela, como o projeto tem 5 telas, logo o projeto total custará R$1.000.

O interessante disso é que, além do preço por projeto, agora você tem uma média de quanto custa cada tela que você desenvolve. Por exemplo, eu costumo utilizar uma tabela com a base de preços que cobro para diferentes serviços. Desse modo, quando consigo fechar um escopo nos parâmetros que defini, fica muito mais fácil fazer o cálculo.*

*O fato de eu utilizar uma tabela de preços não quer dizer que cobro sempre o mesmo preço. Cada projeto é único, possui desafios e complexidades extremamente diferentes. Não posso cobrar por uma tela de site simples o mesmo que um dashboard complexo.

Além disso, os clientes também mudam bastante. Alguns clientes são super organizados e fáceis de lidar. Logo, demandam menos tempo. Outros não são tão comprometidos e demandam muito mais. Com o tempo você irá começar a entender melhor os tipos de cliente e colocar junto no cálculo o quanto acredita que podem demandar.

Por fim, telas são apenas um exemplo. Tenho valores médios para outros tipos de parâmetros também, por exemplo, número de usuários em uma pesquisa ou valor fixo por tipo de pesquisa (ex.: pesquisa qualitativa até X usuários).

4. Considerações adicionais

Além de todos os parâmetros citados, alguns pontos podem resultar em cobranças adicionais. Por exemplo, é senso comum que quando um cliente pede urgência você pode cobrar um “adicional de urgência”. O valor do adicional pode variar, como 10% ou até 25% a mais. No fim do dia, você decide.

Outros casos não precisam ficar tão óbvios. No caso da urgência pode estar presente no seu orçamento o “adicional de urgência”. Porém, caso veja que o cliente é desorganizado, parece pouco comprometido ou não sabe muito bem o que quer, também adicione uma porcentagem a mais.*

*Neste segundo caso, por favor, não coloque no orçamento “Adicional de desorganização”, as chances de perder o cliente ficam enormes… 🙊

Dicas práticas

Na hora de enviar seu o valor do seu design ao cliente, não esqueça:

  • Preço é diferente de valor: foque no valor do seu serviço, aquele valor intrínseco que somente você consegue entregar.
  • Preço não, investimento: evite usar palavras como custo e preço, prefira a palavra investimento.
  • Você não é CLT: se um cliente te contratar como Pessoa Jurídica (PJ) ele não pode exigir horários, microgerenciamento ou similares.
  • Hora vs. Projeto: não existe certo ou errado na hora de escolher, quem define a estratégia do seu negócio é você.
  • Quanto quer ganhar vs. Quanto vale o Design: ao invés de focar em “Quanto você quer ganhar” foque em “Quanto vale meu design para essa empresa?”.

Resumo: qual o preço do MEU design?

Por fim, eu não menti para você. Preço é complexo e subjetivo. Ele depende de vários fatores como sua experiência, a estratégia do seu negócio, como você trabalha e assim por diante.

Porém, existe uma vantagem: como é subjetivo, não existe certo ou errado. Aproveite a oportunidade para aprender, se não estiver fechando bons contratos, se questione como pode melhorar.

E para finalizar, você não precisa que o valor da sua hora seja dito por uma calculadora ou por algo objetivo. Preço é subjetivo, no fim do dia você é a única pessoa que sabe seu valor.

Na dúvida, passe o preço que achar justo, independente de calculadoras ou outros métodos. Depois disso, é reza e aprendizado!

Bons freelas para todos.

E aí, bora ser freela?

A seguir alguns materiais que poderão ajudar nos seus estudos:

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